Friday, March 16, 2012

Direitos Humanos

Desde que recebi parcela do poder estatal, para dele usufruir da melhor forma que me convir, uma das situações mais insólitas em que já me vi foi a seguinte.

De posse de um mandado de internação compulsória, cujo objeto era levar um sujeito na marra para uma clínica de reabilitação, a fim de que ele fosse tratado de seu vício em cocaína e barbitúricos, dirige-me até o apartamento do cidadão. Sob minha batuta, 4 policiais militares. Apresentei-me e o drogadito franqueou suas portas. Li os termos do mandado. Perguntei se ele iria me acompanhar voluntariamente ou se seria necessário conduzi-lo a força. O maluco não se opôs, apenas pediu para tomar um banho. Acontecimentos.

Agora já estamos do lado de fora do prédio, em frente à viatura da polícia. Contudo, com 4 policiais e eu, já havia 5 negos dentro da caminhonete. Logo, o drogadito teria que ir na "caixa", na parte de trás da viatura, onde são transportados presos e maloqueiros.

O sujeito, que até então vinha cooperando maravilhosamente, ao ser informado que teria que viajar dentro da "caixa", abriu o maior berreiro, com um pomposo discuso sobre a dignidade da pessoa humana. Vale ressaltar que o cara não era um favelado ou marginal qualquer, mas sim um ocupante de prestigioso cargo na união federal.

Me vi diante de um dilema, ou bato o pé e peço pros policias algemarem o cara e colocá-lo à força na "caixa", correndo, assim, o risco do cheirador meter na minha espinha posteriormente; ou deixo de cumprir a parada, sob o argumento de que não teriam sido fornecidos meios condignos de transportá-lo. Em qualquer umas das hipóteses, eu estaria fudido.

Matutei por alguns instantes. "Como vim parar aqui? Que merda de emprego", pensei. Enquanto isso, o cara ameaçava que eu seria responsabilizado acaso desse continuidade aquele ato, e o policiais esperavam uma decisão. Foi ai que me veio uma luz.

- Eu vou na "caixa" então!

Sentenciei triunfante. Claro, dai o cara iria no banco de trás e não tinha grilo. É claro que eu teria que passar a próxima hora dentro de um pequenino espaço, por onde diversos marginais sebosos já teriam passado, mas ai eu conseguiria cumprir a parada numa nice! E o cara também não podia ficar mais choramingando.

Após cerca de uma hora de viajem, chegamos ao nosso destino. Deixamos o drogadito na clínica e regressamos.

Talvez eu não tenha relatado o suficientemente bem, para que o inexistente leitor tenha compreendido perfeitamente a dimensão dos acontecimentos que se assucederam naquela fatídica noite de sexta-feira, mas aquele foi um dos episódios mais bizarros da minha pobre vida. Palavra.

3 comments:

  1. Vc é hilário! Amei seus posts! Tenho uma irmã, oficiala de justiça que tb se depara com situações bizarras.. parabéns pela profissão e pelo blog ;)

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  2. Rapaz, para quem diz que tem uma vida desprezível, você tem até muita história para contar rsrsrsrs. Parabéns pelo blog e tente gostar mais do seu trabalho, pelo menos ele lhe rende boas histórias.

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