Tuesday, November 12, 2013

O caso da "pepeca de ouro"

Quebro o silêncio que vem assombrando este blog, pois achei digo de compartilhamento as palavras mais a frente transcritas, que ouvi de uma das vidas que arruinei na última semana.

Em um dia ordinário, sob os flamejantes raios solares, fui citar um sujeito numa ação de divórcio; além de lhe dar ciência quanto a ação impetrada por sua ex-esposa, a ordem judicial também determinava sua intimação para que, a partir daquele instante, depositasse mensalmente, até o fim dos tempos, uma polposa pensão.

Meio relutante e incrédulo, o cara faz o seguinte comentário antes de, a muito contragosto, lançar sua nota de ciente na minha via do mandado: "pô, essa mulher quer carro, apartamento e agora pensão; ela deve tá achando que tem uma pepeca de ouro".

Anui silenciosamente com um aceno de cabeça. Franzi o cenho e vazei dali, em busca da próxima vítima do judiciário.

Thursday, July 25, 2013

Big Brother Brasil 2014

Naquela fria manhã de inverno meu couro cabeludo precocemente nu era castigado pela gélida brisa que soprava do atlântico.

Como a residência indicada no mandado não possuía uma campainha, bati minhas esquálidas palmas e berrei "ô, de casa", me sentido o maior paspalhão do pedaço.

Aparece um sujeito na janela; me identifico como "longa manus" do Poder Judiciário; ele vem até o portão.

De posse de um mandado de citação em uma ação de execução de alimentos, iniciei meu monologo padrão, que passo a sintetizar: sua ex-mulher havia ingressado com aquela ação, cujo objeto era cobrar dezesseis mil reais de pensão alimentícia em atraso, e mais, se ele não pagasse a grana em três dias, ou apresentasse alguma justificativa muito boa (tipo: não paguei pois fui abduzido por alienígenas oriundos dos confins do universo), seria decretada sua prisão.

Nesse tipo de situação, terminado o meu discursinho, normalmente o sujeito tenta se justificar pra mim, contando toda a história de sua vida até culminar naquele fatídico momento, na esperança de que eu tenha qualquer poder na condução do processo. Eu não tenho, e sempre acabo tendo que explicar que sou um reles "carteiro do fórum", que apenas cumpro ordens judiciais e nem conheço os processos, bla bla bla.

Mas não o sujeito dessa história, pois, uma vez cientificado dos termos do processo, ele se resumiu a decretar "eu vou matar essa filha da puta".

Nos despedimos. Eu havia arruinado mais uma vida.

Monday, June 10, 2013

Compra coletiva de ingressos de cinema

Até algum tempo, eu considerava ir ao cinema com minha amasia Kathieky um programa prazeroso. Sentar-me diante da telona e, por cerca de uma hora e meia, esquecer-me de como a vida é injusta e sem sentido. Mesmo aqueles filmes escrotos, em que os Estados Unidos salvam o mundo mais uma vez, enquanto todas as outras nações assistem inertes à possível aniquilação da raça humana, conseguiam ser legaizinhos.

Não mais. As salas de cinema foram invadidas por debiloides deglutidores de pipoca. Criatura estúpidas para quem o que esta sendo projetado na tela não faz a menor diferença. Aliens atacam a "América"? Uma criatura monstruosa fugiu do laboratório e aterroriza o povo "americano"? A cidade de Nova York está sob ataque terrorista? Os debiloides não se importam; o que eles querem mesmo é conversar ruidosamente, bater com suas patas imundas no banco da frente, mexer na porra do celular a cada 5 segundos, enfim, qualquer atitude que denote o seu total desprezo pelos demais seres humanos. "Eu sou mais eu, o mundo gira ao meu redor", se orgulham os debiloides.

Nos dias de hoje, é simplesmente impossível ir ao cinema, com o intuito de assistir ao filme, e não ficar completamente irritado. Acaso eu tivesse porte de arma, todas as minhas idas ao cinema terminariam em derramamento de sangue. Nego bateu com o pé na minha poltrona? BANG! Nego resolveu checar o facebook no meio do filme? BANG! Nego acha que conversar sobre temas variados durante a sessão é considerada uma conduta socialmente aceita? BANG!

Infelizmente, devido à minha personalidade psicótica e transtornada, foi-me negado o porte de uma arma de fogo. Quem sabe um dia...

Defensoria Dativa

Não tenho nenhuma história engraçada pra contar, meus dias cumprindo "mandaTos" judiciais seguem insossos.

O único acontecimento digno de nota, que relato apenas para quebrar a sequência de vários dias sem atividades neste malfadado blog, foi esses tempos, quando cheguei na casa dum sujeito para citá-lo numa ação de alimentos.

Na condição de bastião do judiciário - o longa manus da justiça, que se fode por ai ouvindo desaforo sob o sol escaldante, enquanto os deuses estão confortavelmente sentadinhos em seus gabinetes aveludados e climatizados - introduzi-me ao pobre sujeito. Disse-lhe que, a partir daquele instante, ele deveria pagar 30% de seus rendimentos líquidos (inclusive férias e 13o) a título de alimentos para seu filho infante; caso contrário, ele seria preso e levado para uma das unidades do sistema prisional catarinense, onde uma horda de detentos faria uma festa em sua cavidade rectal.

Em resposta aos termos do mandado que acabará de tomar ciência, o pobre sujeito disse: "mas que filha duma puta, essa mulher; eu pago tudo pra esse guri ai; mas ela vai ver só, vô pêga um devogado e vô mête no cu dela".

Sob o peso daquelas sábias palavras, despedi-me sem dizer nada e parti para o próximo endereço onde eu iria arruinar mais uma vida.

Thursday, May 2, 2013

Master / Slave

Eu, pessoalmente, detesto ter que circular pelo Olimpo. Aquele monte de gente estúpida, para quem o Sodalício nada mais é que um evento social, onde se desfila com camisas polo da Tommy Hilfiger ou caras excessivamente maquiadas. Apesar de perto do céu, aquele lugar é uma visão do inferno para as pessoas sensatas e humildes.

No entanto, possuo um(a) informante lá dentro, que chamaremos de Garganta Profunda, o (a) qual sabe de tudo que se passa naquele antro.

Dia desses, conversávamos sobre os últimos julgados do Tribunal de Haia, quando Garganta Profunda me confidenciou uma história escabrosa.

Era uma vez, em um pedacinho de terra perdido no mar, no topo do Monte Olimpo, um gabinete forrado de veludo e com uma vista panorâmica para o Oceano Atlântico. Em uma mesa de mogno, decorada com um bezerro de ouro e uma cruz invertida, um DEUSembargador papeava com uma alta autoridade da administração estadual, uma tiazinha.

Abre parênteses

Pra quem não sabe, DEUSEmbargadores são bons demais para se servirem do próprio café. Toda vez que Sua Majestade Real está afim de uma cafeinazinha, Ele toca uma pequena sineta e uma cena muito constrangedora se desenrola: um pobre sujeito entra na sala equilibrando bules e xícaras sobre uma bandeja de metal e serve o café conforme Suas preferências pessoais.

Fecha parênteses

Enfim, tocou-se a sineta, e o pobre sujeito entrou no gabinete. Duas pessoas para servir, Sua Alteza Sereníssima e a tiazinha. O pobre rapaz do café serviu primeiro a velhinha e depois o Ilustríssimo.

Passado algum tempo de conversa, a tiazinha foi embora. Sua Alteza Imperial, então, tocou sua gloriosa sinetinha. Entra em cena, novamente, o pobre rapaz equilibrista de café. Mas Ele não queria café. Desenrolou-se o seguinte diálogo:

"Que diabos tu pensa que esta fazendo?!", questionou o DEUSembargador, para quem o rapaz do café era apenas um relés serviçal, indigno de educação e cortesia.
"Como assim, seu dotô?!", respondeu temeroso o pobre sujeito.
"Viestes aqui no meu gabinete e servistes minha visita primeiro?!", vociferou a autoridade.
"Ai, seu dotô, é que me pareceu de bom tom servir primeiro a tiazinha, que além de visita, era mulher e velha.", tentou argumentar o indefeso rapaz.
"Não me interessa, da próxima vez, se nesta sala estiver eu e deus, você vai me servir primeiro!", sentenciou.

Garganta Profunda dá fé do relato e eu não duvido. No que concerne a relação de servilismo, a única diferença entre o Sodalício e o período feudal, é que o servo que quebrar seu juramento de fidelidade aos nobres, ao invés de ser açoitado em praça pública, perderá seu emprego e não conseguirá mais pagar as parcelas do seu carro tunado, nem pagar a encomenda de camisas polo da Tommy Hilfiger que aquele seu primo que foi pra Miami vai trazer. Ou seja, cairá na mais completa desgraça e descrédito.

Tuesday, April 30, 2013

Beats by Dr Bilontra

Ultimamente, nas poucas oportunidades em que fui obrigado a sair de casa e circular incógnito pelas ruas da cidade, não pude deixar de notar uma alarmante nova tendência entre a galera desmiolada: usar gigantescos fones multicoloridos na cabeça.

Sério, qual o sentido? Os "antigos" e pequeninos fones de ouvido já não são suficientes? Será que a cabeça de algumas pessoas é tão inútil que só serve mesmo para virar estandarte de alguma empresa ?

"Ai, Capitão, você é mesmo uma pessoa rabugenta e amargurada, usar esse tipo de adereço é a última moda no além mar", questionaria o leitor revoltadinho; ao que eu responderia "e se enfiar uma cenoura no rabo fosse moda, você assim o faria?!"; ao que alguns leitores deste blog replicariam "óbvio".

Mas a sexualidade duvidosa das pessoas que perdem tempo lendo isto aqui não é o ponto; o ponto é que os boizinhos do capitalismo, que compõem 99,99% da população brasileira, aderem sem titubear a qualquer modismo por mais estúpido que seja.

Há um ano, se alguém saísse na rua com um fone desses na cabeça, com certeza seria motivo de olhares desconfiados e deboche. Desde então tudo mudou, e os mesmos que antes debochavam agora desfilam orgulhosos com seu novo brinquedinho.

Friday, April 26, 2013

Strange Case of Dr Bilontra e Mr Baixaria

Até ontem, achava eu que o curso de direito atraia absolutamente todos os descerebrados egressos do ensino médio.

Abre parenteses

Não, eu não estou dizendo que todos os estudante e profissionais do direito sejam babacas. Há exceções à regra. Alguns até que são "legaizinhos". Mas o inexistente leitor que conhece o meio jurídico, há de convir comigo que a proporção 'babacas/caras-legais' nas cadeiras do curso de direito não é muito favorável.

Fecha parenteses

Relata minha estimada Kathiely, com quem possuo laços matrimoniais, ter ido ao médico, o qual chamaremos de Doutor Bilontra, para obter um atestado que lhe autorizasse a frequência em aulas de natação. Tal atestado é se suma importância, é uma exigência da escola de natação, que, com razão, não quer suas piscinas infestadas por pessoas com perebas pustulentas na pele.

No entanto, ao invés de analisar a pele de Kathiely em busca de anormalidades (que ele certamente não encontraria, pois a cútis de Kathiely é alva e macia, não possuindo absolutamente nenhuma imperfeição), o supramencionado Doutor Bilontra se resumiu a perguntar: "você possui algum problema de pele?", ao que Kathiely obviamente respondeu "não". Satisfeito com esta singela resposta, o retromencionado Doutor Bilontra sacou seu bloquinho e atestou que minha estimada Kathiely estava apta a sacolejar seu esguio corpo na água.

Dum sujeito formado no curso de direito, tal atitude seria compreensível, pois, como se sabe, a desídia e a negligência são marca registrada daqueles que ostentam orgulhosamente em suas paredes um diploma de "baixaria de direito". Mas vindo de alguém que teve que efetivamente estudar pra passar no vestibular, e ainda ficar sete anos em uma faculdade onde a frequência e as notas são levadas em consideração para se obter um diploma; pô, sacanagem, Doutor Bilontra.

Estarão os "baixarias de direito" contaminando toda a sociedade brasileira com sua preguiçosa desidiosidade?" (desculpem o pleonasmo) Se sim, estamos todos perdidos!

Han shot first!

Dia desses, não sei ao certo por qual motivo, resolvi dar uma lidas nas publicações mais antigas deste malfadado blog. Nem bem havia terminado a primeira página, senti profunda vergonha de que alguém já pudesse ter lido aquele monte de asneiras. Deus, eu era mesmo um sujeito amargurado, um pseudo-rebelde sem causa.

Assim, tal qual George Lucas, resolvi alterar ou suprimir parte de minha gloriosa obra.

Não que alguém se importe, obviamente. Mas tal medida se faz necessária para diminuir as chances de alguém "me meter no pau"; e, acaso eventual ação de indenização por danos morais c/c pensão vitalícia chegue ao Olimpo, talvez os Deuses Togados sintam um pouco de compaixão pela minha pobre alma.

Friday, April 19, 2013

MM. Ex. Sr. Dr. Wilson

Esses dias, eu estava lá no fim do mundo exercendo meu nobre munus, que consiste em arruinar a vida das pessoas, quando recebo uma ligação de Wilson, antigo personagem deste blog.

Wilson, que mora no interior do estado, onde as casas são em estilo enxaimel e as vaginas são mais áridas que o deserto do Sahara, desejava um favor. Wilson narrou via telefone seu drama particular. Ele havia feito um concurso para Desembargador e desejava recorrer de umas questões para garantir sua sonhada tetinha vitalícia junto ao polposo erário. Bem da verdade, Wilson tinha obtido nota suficiente para ser aprovado e o que ele queria mesmo, era disseminar o caos tumultuando o certame. De qualquer sorte, era necessário que eu me dirigisse até o Olimpo do Judiciário, onde residem os Deuses e seus aduladores, e obtivesse cópia da prova por ele realizada.

Parecia fácil.

O Monte Olimpo é um lugar mágico, formado por duas grande montanhas de aço, concreto e vidro. Em seu topo, os Deuses, seres iluminados, residem e emitem seus julgamentos. O lugar também é lar de criaturas desprezíveis, um subtipo dos "baixarias de direito", que parasitam os Deuses, e se acham imbuídas de todo o conhecimento jurídico do mundo. Mais que possuir tirocínio jurídico, para ser aceito entre os parasitas, é necessários usar camisas polo da Tommy Hilfiger e dirigir carros tunados pagos pelo papai.

Enfim, já no lobby do Olimpo, vários parasitas desfilavam pomposos, desejosos de um dia ascender ao topo. Subi sofregamente os 11 andares. Nem bem sai do elevador, vi que uma fila se estendia por vários metros, inciando-se em frente a uma porta intitulada "Comissão de Concurso".

Como estava próxima do topo, regozijei ante a possibilidade de que não haveria vermes por perto. Ledo engano. Aquela fila era composta exclusivamente por outro subtipo de "baixarias de direito", os vermes que são tão assoberbados de si mesmos que sonham em virar "autoridade", a fim de que possam tratar os outros como lixo, vulgo "concurseiros". Pensei em me jogar da janela.



Naquele momento, cercado de vermes, cheguei até, em pensamento, a maldizer pobre Wilson. Mas não, Wilson é boa gente e precisava da minha ajuda, e se tem alguém que merece ficar milionário mamando nas suculentas tetas do governo, era Wilson. Por hora, resolvi não me jogar.

Prosseguindo. Como é costumeiro quando se reúnem mais do que dois vermes no mesmo ambiente, inicia-se uma competição velada para ver quem é o melhor. Normalmente ambos são uns merdas. Mas enfim, as discussões de cunho jurídico-filosófico que não levam a lugar nenhum já haviam iniciado. No caso em comento, discutia-se o fim do prazo para recorrer. Uns sustentavam que seria no dia seguinte, sexta-feira, outros, na segunda-feira. Nisso, um japinha que era o próximo da fila entrou na Comissão, enquanto a discussão acalorada continuava do lado de fora. Passados alguns minutos, o retromencionado Japinha saiu da sala e informou, na sua ingenuidade, que ele teria indagado à comissão, e que a informação oficial seria de que o prazo era até segunda.

Pobre Japinha, não sabe ele que os vermes detêm todo o conhecimento jurídico do mundo?! Em sua soberba ignorância, um verme baixaria em direito está sempre certo! Obviamente, um dos vermes, vociferou em resposta: "mas o edital do concurso prevê apenas dois dias de prazo, que acabam amanhã. O edital é a lei do concurso. E se a comissão estiver errada? Serei eu punido pela burrice deles?!".

Findo seu discursinho, o sujeito lambeu os lábios com sua língua peçonhenta e arregalou os dentes num sorriso macabro, certo de que era o melhor ser humano naquele corredor.

Tive que me conter para não pular ali do 11o andar. Ser esmagado contra o concreto não podia ser pior que ter que ouvir esse tipo de coisa. Mas não, só eu poderia ajudar Wilson. Eu tinha que conseguir. Wilson merece ficar milionário, e, por tabela, arranjar um cargo de parasita pra mim.

Após cerca de uma hora e meia naquela fila, durante os quais várias vezes questionei o sentido da vida, finalmente consegui o documento que iria catapultar Wilson para a classe A+.

Mandei para Wilson o negócio e voltei pra casa.

Ainda meio tenso e entristecido pela miséria humana, acessei o Red Tube para dar uma relaxada, e, enquanto eu assistia uma esmilinguida garota ser sodomizada por 10 caras, tive um insight, e vi no rosto daquela pobre menina, o rosto de todos os vermes que eu havia visto no Olimpo. Pobres diabos, eles são mais dignos de pena que de desprezo, seus pequeninos sonhos de ter o carro mais tunado da rua, ou a mulher mais siliconada do prédio. Não sabem que isso é tudo uma ilusão? Naquele momento, ainda com as calças arriadas, esqueci de meu ódio e desejei apenas poder abracá-los todos e mostrar a eles o verdadeiro sentido da vida.