Thursday, May 2, 2013

Master / Slave

Eu, pessoalmente, detesto ter que circular pelo Olimpo. Aquele monte de gente estúpida, para quem o Sodalício nada mais é que um evento social, onde se desfila com camisas polo da Tommy Hilfiger ou caras excessivamente maquiadas. Apesar de perto do céu, aquele lugar é uma visão do inferno para as pessoas sensatas e humildes.

No entanto, possuo um(a) informante lá dentro, que chamaremos de Garganta Profunda, o (a) qual sabe de tudo que se passa naquele antro.

Dia desses, conversávamos sobre os últimos julgados do Tribunal de Haia, quando Garganta Profunda me confidenciou uma história escabrosa.

Era uma vez, em um pedacinho de terra perdido no mar, no topo do Monte Olimpo, um gabinete forrado de veludo e com uma vista panorâmica para o Oceano Atlântico. Em uma mesa de mogno, decorada com um bezerro de ouro e uma cruz invertida, um DEUSembargador papeava com uma alta autoridade da administração estadual, uma tiazinha.

Abre parênteses

Pra quem não sabe, DEUSEmbargadores são bons demais para se servirem do próprio café. Toda vez que Sua Majestade Real está afim de uma cafeinazinha, Ele toca uma pequena sineta e uma cena muito constrangedora se desenrola: um pobre sujeito entra na sala equilibrando bules e xícaras sobre uma bandeja de metal e serve o café conforme Suas preferências pessoais.

Fecha parênteses

Enfim, tocou-se a sineta, e o pobre sujeito entrou no gabinete. Duas pessoas para servir, Sua Alteza Sereníssima e a tiazinha. O pobre rapaz do café serviu primeiro a velhinha e depois o Ilustríssimo.

Passado algum tempo de conversa, a tiazinha foi embora. Sua Alteza Imperial, então, tocou sua gloriosa sinetinha. Entra em cena, novamente, o pobre rapaz equilibrista de café. Mas Ele não queria café. Desenrolou-se o seguinte diálogo:

"Que diabos tu pensa que esta fazendo?!", questionou o DEUSembargador, para quem o rapaz do café era apenas um relés serviçal, indigno de educação e cortesia.
"Como assim, seu dotô?!", respondeu temeroso o pobre sujeito.
"Viestes aqui no meu gabinete e servistes minha visita primeiro?!", vociferou a autoridade.
"Ai, seu dotô, é que me pareceu de bom tom servir primeiro a tiazinha, que além de visita, era mulher e velha.", tentou argumentar o indefeso rapaz.
"Não me interessa, da próxima vez, se nesta sala estiver eu e deus, você vai me servir primeiro!", sentenciou.

Garganta Profunda dá fé do relato e eu não duvido. No que concerne a relação de servilismo, a única diferença entre o Sodalício e o período feudal, é que o servo que quebrar seu juramento de fidelidade aos nobres, ao invés de ser açoitado em praça pública, perderá seu emprego e não conseguirá mais pagar as parcelas do seu carro tunado, nem pagar a encomenda de camisas polo da Tommy Hilfiger que aquele seu primo que foi pra Miami vai trazer. Ou seja, cairá na mais completa desgraça e descrédito.