Desde que recebi parcela do poder estatal, para dele usufruir da melhor forma que me convir, uma das situações mais insólitas em que já me vi foi a seguinte.
De posse de um mandado de internação compulsória, cujo objeto era levar um sujeito na marra para uma clínica de reabilitação, a fim de que ele fosse tratado de seu vício em cocaína e barbitúricos, dirige-me até o apartamento do cidadão. Sob minha batuta, 4 policiais militares. Apresentei-me e o drogadito franqueou suas portas. Li os termos do mandado. Perguntei se ele iria me acompanhar voluntariamente ou se seria necessário conduzi-lo a força. O maluco não se opôs, apenas pediu para tomar um banho. Acontecimentos.
Agora já estamos do lado de fora do prédio, em frente à viatura da polícia. Contudo, com 4 policiais e eu, já havia 5 negos dentro da caminhonete. Logo, o drogadito teria que ir na "caixa", na parte de trás da viatura, onde são transportados presos e maloqueiros.
O sujeito, que até então vinha cooperando maravilhosamente, ao ser informado que teria que viajar dentro da "caixa", abriu o maior berreiro, com um pomposo discuso sobre a dignidade da pessoa humana. Vale ressaltar que o cara não era um favelado ou marginal qualquer, mas sim um ocupante de prestigioso cargo na união federal.
Me vi diante de um dilema, ou bato o pé e peço pros policias algemarem o cara e colocá-lo à força na "caixa", correndo, assim, o risco do cheirador meter na minha espinha posteriormente; ou deixo de cumprir a parada, sob o argumento de que não teriam sido fornecidos meios condignos de transportá-lo. Em qualquer umas das hipóteses, eu estaria fudido.
Matutei por alguns instantes. "Como vim parar aqui? Que merda de emprego", pensei. Enquanto isso, o cara ameaçava que eu seria responsabilizado acaso desse continuidade aquele ato, e o policiais esperavam uma decisão. Foi ai que me veio uma luz.
- Eu vou na "caixa" então!
Sentenciei triunfante. Claro, dai o cara iria no banco de trás e não tinha grilo. É claro que eu teria que passar a próxima hora dentro de um pequenino espaço, por onde diversos marginais sebosos já teriam passado, mas ai eu conseguiria cumprir a parada numa nice! E o cara também não podia ficar mais choramingando.
Após cerca de uma hora de viajem, chegamos ao nosso destino. Deixamos o drogadito na clínica e regressamos.
Talvez eu não tenha relatado o suficientemente bem, para que o inexistente leitor tenha compreendido perfeitamente a dimensão dos acontecimentos que se assucederam naquela fatídica noite de sexta-feira, mas aquele foi um dos episódios mais bizarros da minha pobre vida. Palavra.
Friday, March 16, 2012
Direitos Humanos
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Só na dróga, véiu!
ReplyDeleteVc é hilário! Amei seus posts! Tenho uma irmã, oficiala de justiça que tb se depara com situações bizarras.. parabéns pela profissão e pelo blog ;)
ReplyDeleteRapaz, para quem diz que tem uma vida desprezível, você tem até muita história para contar rsrsrsrs. Parabéns pelo blog e tente gostar mais do seu trabalho, pelo menos ele lhe rende boas histórias.
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