Eu tinha acabado de chegar em casa após uma extenuante tarde de trabalho. Ansiava por me sentar no sofá e jogar videogame para esquecer da vida medíocre, de cara branco de classe média, que levo.
Mal eu iniciará de desamarrar o calçado. O telefone toca; era do fórum; eu estava de plantão.
Era um alvará de soltura e mandado de citação. O mesmo sujeito deveria ser libertado do cárcere e citado em uma ação penal. O cara tava recolhido no Hospital de Custódia, que é o "presídio dos malucos".
Amarrei novamente o tênis; entrei no carro; dirige-me até o ergástulo; apresentei-me ao carcereiro; levaram-me até o calabouço.
O responsável pediu pra mim aguardar numa salinha, era como um parlatório, onde advogados tem entrevista reservada com seus clientes enjaulados.
A porta se abriu, entrou um sujeito de uniforme laranja acompanhando de um agente prisional. Logo já vi que o cara tava chapadasso, totalmente dopado.
Apresentei-me e iniciei meu longo monologo a fim de que todas as formalidades legais fossem preenchidas. Ocorre que, a cada palavra que eu dizia, mais eu constatava que o cara estava em outro planeta, totalmente alheio ao que acontecia ao seu redor.
Interrompi minha fala e olhei naqueles olhos vazios, procurando alguma resposta, algum sinal de que o cara estava me entendendo.
Num lampejo de luz, percebendo que eu esperava alguma reação, o cara soltou um débil "eu tô bem, eu tô bem".
"Deus", pensei, "que merda de emprego". Continuar era inócuo. "Assina essa parada aqui", falei, e lhe entreguei a contrafé.
Voltei para casa. Joguei videogame mais avidamente do que nunca.
Monday, September 3, 2012
Eu tô bem
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Maloqueiragem a flor da pele, manolo!
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