Tuesday, September 11, 2012

Contos da Favela do Siri

Numa tarde dessas, moradores da favela do siri que olhassem por suas janelas, veriam um rapaz branco, claudicante e desmilinguido passando em frente de suas casas.

No que eu dobrei a primeira esquina, vi um casalzinho vindo. Um maloqueiro e uma guria loira de uns 16 anos. "Que lastima", pensei, "qual a doentia atração que esses vermes exercem sobre belas mocinhas adolescentes?". Perturbou-me também o fato de que o sujeito vinha tentando enrolar alguma coisa nas mãos enquanto andava, porém sem sucesso. Ele teve que parar e se encostar num poste para concluir sua tarefa, bem no momento em que passei por eles. O sujeito tava enrolado um cigarrinho do capeta, bem no meio da rua, em plena luz do dia.

"Que merda de lugar", pensei. Não é a toa que a mãe natureza, lentamente, dia após dia, vem encobrindo aquela localidade com suas areias.

Meu objetivo, naquele lugar desprezível, era justamente intimar um sujeito que está sendo processado criminalmente por porte de drogas.

Entrei na ruela indicada no mandado e comecei a procurar pelo respectivo número. Na favela do siri, a numeração das ruas não faz o menor sentido, e achar uma casa específica lá é sempre um martírio. Esbaforido, cheguei ao final do beco, sem ter localizado a residência apontada, quando vi a bizarra cena que me inspirou a escrever estas medíocres linhas.

Um sujeito, tetraplégico, em sua cadeira de rodas, numa rodinha de maconheiros. Cada um dava uma pitada na porcaria e passava pro próximo maloqueiro. Quando chegava a vez do rapaz entrevado, um solicito amigo gentilmente colocava o baseado em sua boca e esperava ele tragar, passando então pro próximo.

Não soube ao certo o que pensar daquilo. Talvez eu devesse ter jogado uma granada no meio daqueles caras, mas o preço da granada anda caro, então achei melhor esperar por outra oportunidade, quando houvessem mais maconheiros reunidos.

Fui pra casa e tomei várias cervejas, e, antes de bater violentamente e sem qualquer motivo na minha mulher, pensei: "como a maconha é uma substância terrível que vem arruinando as famílias brasileiras".

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